"A verdade, é provável que ela funcione qual o horizonte, que desmente as duas faces, oculta seu espelhar recíproco e, na mais silente simplicidade, já não tem nada a desvelar, senão todo o mundo que converge para que ele exista (Pacta Corvina)".
Art. 426 Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa
viva. (Código Civil)
Em Pacta Corvina, o leitor traz para si o
narrar, uma vez que abre as linhas da narração, e o ato é confirmado nas várias
vezes em que torna a abri-las, pois que ele mesmo já é outro personagem.
"Não posso dizer que, por trás destas
folhas, estão todos mortos".
Um leitor diria que a vontade e o tempo tentam
subjugar-se.
Veria um desafio travado no tabuleiro da linguagem,
cujas casas, naturalmente incertas como o próprio jogo, são arbitradas quando
lampeja cada movimento: conhecimento,
desejo, literatura. Arbitragem que tantas teorias tentam chamar para si.
Trocam-se visões inelutavelmente parciais – há apenas
partes. E cada uma julga por si, valendo-se de sentenças em perspectiva,
retroativas, cambiantes. Nenhuma decisão pode suspender a eterna e onipresente
troca do sentido, seja ela do leitor primeiro ou futuro.
ignorava a forma que permitia escapar da
queda: o círculo."
Um pacto é narrado. Num objeto. Que dele faz parte.
Os fragmentos assomam diante dos olhos, há um mundo
por trás deles, mas o mundo são textos.
"E sugiro prudência: no seu jogo de
referências, pode acabar-se perdendo."
A linguagem chama ao seu jogo, que se
confunde com ela, conosco...
"[...] qualquer função que não aquela
apta a criar: inseparável de cláusulas referidas a si mesmas."
Quantas chaves de leitura não se deixam divisar a cada
percurso? Quantos fios ligam os fragmentos? São arrastados juntos, na mesma
água? Uma incursão pela Teologia que conduz às portas da Justiça...
"Não adianta teimar com a gramática [...]
Aposta-se, senhor, contra as leis.[...] Aguarda-se com humildade o momento em
que nossa
língua cessa".
E deparamos, ora, com uma situação "[...]
apta a configurar estado de exceção, como zona de indiferença entre a
normalidade
e seu oposto, que, antes
de se subtrair à norma, pelo contrário, é esta que se
suspende..."
Ficamos com Walter Benjamim: "uma escrita sem sua
chave não é escrita, mas vida".
A luta contra as faculdades humanas...
"Tornaríeis a nós, musas, deixaríeis o
monte, se pudéssemos restaurar o altar da vossa mãe? [...] esse é o direito,
ainda que ilusório, de
passagem, da memória [...] Mas dessa vez
foi ela que passou, e ele ficou."

O mesmo, o interior...
"Não vos aflijais, um, dois, quantos forem os deste mundo
errantes! Ai, que já perco o juízo, quem sou, quem sois; ao final se custa veremos o agora como dantes! [...] _ Agora, eu? Mas logo somos dois, antes como depois. [...] Eu não posso prosseguir sozinho, comigo mesmo".
Em algum momento, uma língua se perdeu. E o tempo que
redescobrimos...
"Pobre língua que fundavam os pactuários
do tempo instituído: quem amasse agora deveria dizer amar depois".
[Trechos extraídos do livro Pacta Corvina]
©2012 Thiago Dias de Matos Diniz
Ficha técnica: I.S.B.N.:978-85-913618-0-9. 160 p. 13,0 X 19,5cm. Brochura.
Edição 1/2012. Idioma: Português.
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